Treinador de cachorro – Como a ciência está revolucinando o treinamento de cães

Vários livros sobre a criação de cães e qualquer treinador de cachorro concordam em pelo menos uma coisa: socialização desde filhote é fundamental, especialmente durante o período crítico entre 8 a 20 semanas. Isso significa que você deve introduzir o filhote ao convívio de quantas pessoas forem possíveis.

E não é apenas introdução a pessoas, mas pessoas realmente diferentes, com características físicas variadas, não apenas no modo de se vestir, mas étnicas também.

Esse ênfase em socialização é um elemento importante de uma nova abordagem na criação do animal de estimação moderno, especialmente os cachorros. Métodos antigos, baseados apenas em estudos de hierarquias presumidas de matilhas, não fazem mais tanto sentido nos dias de hoje.

Há muitos livros de renomados treinadores de cachorro que se baseiam em conceitos clássicos de dominância, ensinando como os tutores devem aprender a ser os líderes do bando, mesmo que isso significasse aplicar correções severas.

No entanto, embora existam cachorros de personalidade e comportamentos variados, que podem ser mais facilmente desencorajados ou relutantes a aprender algo novo. Por isso, hoje em dia é possível contar com outras opções em treinamento de cães, focados em socialização precoce e reforço positivo.

Vamos falar mais sobre como o treinador de cachorro e a ciência se complementam, a fim de revolucionar o treinamento de cães com novos métodos e abordagens.

Confira abaixo!

Positividade – uma nova abordagem de treinamento

treinador de cachorro: pit bull na coleira
O treinador de cachorro atual utiliza de métodos positivos para treinamento animal.

Há algum tempo, já se observa um movimento crescente que defende o método de ensinar tutores sobre  socialização canina precoce e o valor dos treinamentos focados em recompensas, além de muito treinador de cachorro já adotar apenas reforço positivo.

Mas essa abordagem ainda era assunto de debate e polêmicas. Muitos ainda acreditam que qualquer animal pode fazer o que você quiser se souber que você esconde um petisco na palma da mão, ou ignoraria a ordem quando não houvesse.

Se você antes acreditava nas abordagens de treinamentos anteriores, saiba que com a ajuda de treinadores experientes e cientistas, é possível usar outros métodos, evitando coleiras enforcadores ou de choque e até a palavra “não” como treinamento.

Há um mundo novo no que diz respeito a treinamento de cachorro!

O que traz a nova abordagem de um treinador de cachorro?

A ciência por trás dessas novas técnicas não é exatamente nova: ela é baseada na teoria do aprendizado e condicionamento operante, que envolvem reforço positivo (a adição de) ou negativo (a retirada de).

Mas também inclui o outro lado da moeda: punição positiva ou negativa. Por exemplo, acariciar a cabeça do cão por buscar o jornal é reforço positivo, pois você está executando uma ação (positiva) para encorajar (reforçar) um comportamento.

Repreender o cachorro por um comportamento inadequado é punição positiva, por ser uma ação para desencorajar um comportamento.

Uma coleira enforcadora que relaxa a tensão quando cachorro para de puxá-la é reforço negativo, porque o comportamento do animal (desistir de puxar) resulta na remoção de uma consequência indesejada.

Tirar o frisbee do cachorro ou qualquer outro objeto dele por estar latindo em excesso é punição negativa, pois você removeu um estímulo para diminuir um comportamento indesejado.

O que mudou na abordagem de um treinador de cachorro?

Muita coisa mudou em relação à forma como a ciência é aplicada pelo treinador de cachorro. O treinamento deixou o antigo modelo orientado pela obediência para se dedicar a mostrar aos cães uma abordagem baseada no relacionamento voltado aos cães de companhia.

O treinador de cachorro hoje acredita que o uso de reforço negativo e punição positiva, na verdade, desacelera o progresso do animal, ao prejudicar a sua confiança, além da sua relação com o tutor ou adestrador.

Por exemplo, cães que recebem uma quantidade grande de correções — especialmente punições físicas mais duras e repreensões verbais como “Cachorro mau!” — começam a retroceder ou recuar ao tentar coisas novas.

Estes novos métodos são sustentados por uma crescente corrente científica que rejeita os antigos estudos, sobre lobos e seus descendentes serem criaturas orientadas pela dominância.

A origem da teoria conhecida por “alpha” veio de Rudolph Schenkel, um cientista que conduziu uma série de estudos sobre lobos em 1947, em que os animais de diferentes matilhas eram forçados a viver em pequenos locais sem nenhuma interação anterior.

Obviamente, eles lutaram entre si, e o comportamento foi interpretado como batalhas de dominância. No entanto, anos mais tarde o cientista teve que admitir que na realidade os lobos estavam estressados com a situação em que estavam sendo submetidos, e não lutando pela posição de “alpha” do bando.

O que dizem outros estudos

Outro estudo publicado recentemente em Portugal avaliou dúzias de cachorros seleccionados de centros de treinamento que utilizavam coleiras de choque, correções por guias e outras técnicas, bem como nenhuma delas — atentando-se apenas ao uso de reforço positivo (petiscos) para conseguir o comportamento desejado.

Os cães vindos dos treinos positivos se saíram melhores em atividades dadas pelos pesquisadores, sendo que os cachorros que eram constantemente punidos apresentaram comportamentos típicos de estresse, como — lambedura, bocejos, choramingos — além de níveis de cortisol medidos pela saliva coletada.

Os benefícios da nova abordagem

treinador de cachorro: labrador dando a pata ao tutor
A nova abordagem do treinador de cachorro traz muitos benefícios.

Estas novas descobertas foram especialmente relevantes no período em que estamos vivendo atualmente. A adoção de cachorros, durante o COVID-19, aumentou exponencialmente, por conta do isolamento e a necessidade de uma companhia, além do fato das pessoas estarem em casa, o que viabilizou ter um animal de estimação.

Mas foi até antes da pandemia que a população mais jovem das grandes cidades começou a impulsionar a demanda por treinadores que utilizassem métodos positivos, fazendo com que mais profissionais surgissem no mercado.

Todos eles hoje acreditam que quanto menos negatividade for usada durante os treinamentos, mais rapidamente os cachorros são capazes de aprender.

Nos últimos 15 anos, várias instituições que treinam cachorros para servir de cão-guia aos deficientes visuais, praticamente extinguiram técnicas negativas de seus treinos e obtiveram excelentes resultados.

Um cão-guia ou de assistência hoje pode estar pronto para conviver com o seu dono em metade do tempo de antes, sendo que ele ainda pode permanecer no trabalho por mais tempo, justamente por não ficar estressado com o trabalho.

Até mesmo os cães policiais e militares estão recebendo mais reforços positivos em seus treinamentos, podendo se observar até uma maior apreciação pelo trabalho. Esses cães gostam de receber recompensas pelo bom comportamento, e entendem que apesar do trabalho ser sério, ele também é divertido.

Essas novas abordagens positivas adotadas por treinadores de cachorro também podem ensinar tutores a identificar as causas subjacentes e condições de um certo comportamento canino, a fim de abordar os causadores mais prováveis — doença, por exemplo — antes de seguir com outras suposições.

Isso não significa que treinadores tradicionais ignoravam doenças relacionadas ao mau comportamento dos cães, mas se dotava a punição mais rapidamente antes de considerar as causas do comportamento indesejado, que poderia ser tratado com técnicas menos invasivas e traumáticas.

Afinal, qual seria o veredito?

treinador de cachorro treinando cão a deitar
Reforço positivo é uma das técnicas do treinador de cachorro atual.

Este campo tem se transformado rapidamente. Até recentemente, muitos treinadores descobriram novas formas de substituir uma técnica por uma melhor. Por exemplo, até pouco tempo atrás se um cachorro arranhasse a porta para sair ao invés de esperar sentado educamente até que ela seja aberta, muitos treinadores recomendam ignorar o comportamento para não reforçá-lo.

A ideia seria esperar que o cachorro parasse de se comportar dessa forma, visto que não conseguiria o resultado (a porta ser aberta). Mas na verdade, esse é uma abordagem negativa.

Hoje, um treinador de cachorro recomendaria redirecionar o cachorro a um comportamento mais adequado, como sentar ou vir, recompensado com um petisco. O comportamento anterior não só desapareceria, como também isso ensinaria o cão a se comportar melhor.

Mas esse debate ainda não está totalmente terminado. Enquanto reforço positivo sem dúvidas ajuda os cães a aprender mais rapidamente, ainda há treinadores que pensam que o animal precisa de alguma correção para estar pronto para um serviço, principalmente os que treinam cães a desempenhar tarefas policiais e militares.

Afinal, técnicas de punição positiva fazem parte da ciência.

A chave para o sucesso é evitar técnicas de punição positiva muito duras ou desnecessárias, a fim de não prejudicar a relação entre o tutor e o animal. so as not to damage the relationship between handler and dog.

Os cães que são repreendidos com muita frequência costuma restringir cada vez mais o leque de coisas que podem tentar a fazer, pois pensam que assim evitarão também a punição. Então, a solução será sempre o equilíbrio.

E a socialização precoce, onde entra?

treinador de cachorro: pastro alemão deitado na grama do canil
A socialização precoce do animal é parte integrante do seu treinamento.

Enquanto muitos ainda argumentam sobre o quanto de positividade versus negatividade devem introduzir na rotina de treinamento, não há qualquer dúvida quanto a importância da socialização do filhote desde cedo.

A maioria dos treinadores de cachorro agora instruem tutores sobre o quanto o período entre 8 e 20 semanas é vital para o cachorro ser introduzido a diferentes pessoas, locais, sons, gostos e cheiros para o resto da vida deles.

Isso porque a maior parte dos “maus” comportamentos são originados pela falta de socialização. Por isso, as pessoas hoje são cada vez mais encorajadas a levar seus filhotes para aulas de treinamento e socialização, para interagir com outros animais, diferente os objetos, superfícies e tudo o que possa vir a desenvolver medos e outros comportamentos indesejáveis no futuro.

Mas o mais importante é saber que, como tutores, temos que fazer o nosso papel. Ao invés de corrigir um mau comportamento, tentar primeiro o que pode estar causando isso. O que será que ele quer? O que pode estar faltando? Será que estou dando o que ele está pedindo ou pelo menos a oportunidade de receber o que deseja?

Sabendo como apontar essas coisas todas você estará aplicando as novas abordagens positivas ao treinamento do seu animal, e tudo baseado em ciência.

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