Sapos, pererecas e rãs são a mesma coisa?

Eles são feinhos, feinhos. A maioria das espécies é até mesmo asquerosa, repelente. Muitas pessoas dizem sentir arrepio somente ao ver um imagem, uma foto de sapos. Imagina-se elas vendo ou tocando um deles. Porém, esses animaizinhos são controversos. Ao mesmo tempo em que são, digamos, horríveis, podem se transformar em príncipes.

E isso não é fábula, não é história da Carochinha. Os sapos podem ser os Príncipes dos Pântanos por sua participação no controle ambiental. Neste artigo, vamos conhecer a importância desses bichinhos esquisitos em muitas áreas de atuação humana: ecologia, literatura, cultura, religião, filosofia. Até mesmo nas história da Carochinha.

Aliás, você sabe por que historinhas infantis são chamadas de Histórias da Carochinha? Não? Você vai saber no adendo que a gente preparou para este artigo.

Os sapos na área da Biologia

Os herpetologistas são os biólogos especialistas em sapos.
Os herpetologistas são os biólogos especialistas em sapos.

Talvez algo que você não saiba é o nome de biólogos especialistas em sapos, mais precisamente em anfíbios e répteis. Sabe? Não? Então, são os herpetologistas. Pronto! Agora, se você for participar de um desses programas de TV de perguntas e respostas, já pode passar por essa questão sem problemas.

Estão classificados na família biológica dos Bufonídeos e na ordem dos Anuros. Sapos são vertebrados anfíbios, ou seja, vivem muito bem na água e na terra. Porém, gosta mesmo é de solo firme ao lado de pântanos. Ao longo dos milênios, as pernas traseiras dos sapos se adaptaram tanto para necessidade de pulos como para de nado. Os músculos são muito fortes proporcionalmente a seu tamanho.

Assim, há espécies cujos indivíduos podem saltar a até 20 vezes o próprio tamanho. Numa comparação aproximada, é o mesmo que um humano pulando mais de 30m de distância.

Eles praticamente não bebem água, pelo menos não pelo método tradicional. Eles absorvem o líquido pela própria pele, que é outra razão pela qual precisam estar em ambiente úmido.

Algumas espécies de sapos contém toxinas que podem causar horrível irritação em mucosas e no globo ocular. Portanto, é preciso cuidado (veja ao fim deste capítulo como diferenciar sapos de outros anuros a fim de diminuir riscos a sua saúde). Tais toxinas são expelidas a partir de glândulas internas.

Porém, isso acontece somente se o animal sofrer alguma pressão física vinda do exterior. Assim, jamais pise em ou aperte sapos.

Príncipe do meio ambiente

Os sapos são muito importantes para o nosso ecossistema.
Os sapos são muito importantes para o nosso ecossistema.

As fábulas conseguem explicar como os sapos se transformam em príncipes. Então, aproveitando essa metáfora literária, pode-se dizer que há certo nível de realidade e verdade nesse contexto.

Sapos são altamente importantes para a ecologia. Quando ainda girinos, são vegetarianos. Assim, estão na base da cadeia alimentar ao ingerir micro-organismos diversos e também servir de comida para outros seres.

Quando em fase adulta, se alimentam de insetos. Dessa maneira, auxiliam no controle de pragas que eventualmente possam infestar plantações. Aliás, muitas espécies de porte maior foram introduzidas nas culturas agrícolas justamente para esse fim em diversas regiões do mundo.

Ao fim de tudo, os sapos acabam servindo também de alimento para muitos tipos de peixes, aves e mamíferos. E são alimentos dos mais competentes conforme você pode ver mais baixo. Portanto, encerram a vida ajudando a cadeia alimentar da fauna.

De que se alimentam

São carnívoros – o significa que se alimentam de seres vivos. Os sapos apresentam enorme capacidade metabólica que transformam os alimentos em energia de excelente qualidade e ótima massa corporal.

Por conta disso, são muito importantes na manutenção da vida a partir da cadeia alimentar, pois seus predadores recebem boa parte daquela energia contida em sua massa corporal. Tal conceito parece inaceitável em princípio, mas a mecânica da natureza é estratégica a esse ponto.

Como são, os sapos

Os sapos são anfíbios sem cauda que se alimentam de pequenos insetos.
Os sapos são anfíbios sem cauda que se alimentam de pequenos insetos.

É anfíbio sem cauda, o que torna seu visual ainda mais estranho. Aliás, o nome da ordem, Anuro, significa justamente “sem cauda” no idioma grego antigo. O tronco curto não tem pescoço e o corpo em si é bastante robusto.

As órbitas oculares são expostas; a língua é seccionada; os membros são dobrados. A pele semipermeável precisa ser umedecida constantemente. Caso contrário, é grande a chance de desidratação.

Por isso, preferem locais úmidos. Contudo, os sapos possuem adaptações especiais para lidar com ambientes secos.

Estão no mundo desde muito tempo

Segundo estudos, o fóssil mais antigo veio do início do período Triássico. Entretanto, sistema de datação mais preciso (por relógio molecular) indica que o tal fóssil é muito mais antigo. Assim, suas origens podem estar no Permiano, ou seja, mais de 265 milhões de anos. Isso quer dizer que estão no mundo desde o tempo dos primeiros dinossauros existentes.

E estão espalhados pelo mundo atual

Há sapos desde os trópicos até as áreas subárticas. Entretanto, a maioria das espécies está concentrada nas florestas tropicais. Já no Brasil, a espécie mais comum é o popularmente conhecido como sapo-caruru. Seu nome técnico é Bufo marinus.

Impossível listar todas as espécies

Não dá mesmo, pois os sapos são nada mais, nada menos que 85% de todas espécies de anfíbios encontradas até agora. São quase 5000 espécies de sapos já registradas nos arquivos da Zoologia. Dentre os vertebrados, os sapos são a quinta ordem mais populosa.

Interessante: segundo observações de especialistas, cada espécie de sapos tem seu próprio tipo de coaxar. E olhe que são mais de 5000 espécies. E o som de algumas espécies pode ser ouvido a mais de 1,5km de distância.

Eles se reproduzem assim

Sapos se reproduzem na primavera.
Sapos se reproduzem na primavera.

Normalmente, os parceiros acasalam na primavera. Um coaxar mais intenso atrai as fêmeas prontas para a cópula. Uma vez identificada a ideal, o macho sobe nela e a abraça.

O abraço de acasalamento pode durar até 15 dias. Ele permanece posicionado sobre ela e, então, ambos expelem seus gametas praticamente no mesmo momento. Isso significa que a fecundação é exterior ao corpo da fêmea.

Os ovos se formam a partir daí envolvidos por uma espécie de muco. Essa substância mucosa facilita que o material se cole em rochas, plantas etc. Os girinos já saem com instinto de nado e passam a se locomover no mesmo instante.

Nesse caso, diz-se que eles têm vida bifásica, ou seja, nascem girinos e, a partir de metamorfose, alcançam a forma de sapos.

De maneira geral, as fêmeas cuidam muito bem dos girinos e têm estratégias para defendê-los. As de algumas espécies põem os ovos diretamente no solo; dessa maneira, podem mantê-los molhados com a própria urina. Já outras expelem os óvulos não fecundados se faltar alimento para os girinos.

As fêmeas das espécies asiáticas têm o cuidado de depositar os ovos em galhos e folhas de árvores que estejam sobre lagoas. Assim, tão logo eles eclodem, os girinos já caem diretamente na água.

Os sapos estão sumindo assim como as abelhas?

Desde os anos 1950, biólogos têm notado declínio na população de sapos. Segundo pesquisas desses mesmos profissionais, mais de ⅓ pode ser incluído na lista de animais ameaçados. Um dado alarmante é que, segundo expectativa de estudos, mais de 120 espécies já foram extintas desde a década de 80.

Os motivos, para variar, são vários. Entretanto, foi descoberto ação de fungos chamados quitrídios que atuam diretamente no organismo dos anfíbios. Assim, causam malformações de órgãos e diminui o número de descendentes.

A vida dos sapos como ela é

Os sapos possuem muitas características notáveis.
Os sapos possuem muitas características notáveis.

O coaxar sapos é assunto explorado em diversas áreas de atuação humana. Palestrantes, escritores infantis, compositores de canções para crianças etc. lançam mão dos sons produzidos pelo bichinho. Afinal, os sapos produzem ampla variação de sons, particularmente quando em fase de reprodução.

Via de regra, têm comportamento variados a depender das situações que enfrentam. Sapos atraem parceiros sexuais, afastam predadores, suportam presença de outros animais, dentre outras circunstâncias sempre a partir de posturas complexas. Veja.

O colorido como proteção

Boa parte das espécies apresenta pele colorida, mas, claro, isso nada tem a ver com plástica visual. Trata-se estratégia de defesa. A natureza resolveu cobrir muitos animais venenosos com cores fortes. A intensidade do brilho colorido estimula os predadores e informa a eles que sua presa oferece perigo.

Então, os sapos foram nessa onda e acabaram assumindo cores vibrantes para enganar seus predadores.

Outra maneira de se proteger de predadores é dormir de olhos abertos. Suas pálpebras não se fecham totalmente. Apesar disso, dormem muito bem.

Os sapos na vida humana

Os sapos têm papel fundamental na vida humana em diversos aspectos.
Os sapos têm papel fundamental na vida humana em diversos aspectos.

Esses anfíbios que, de tão feinhos são engraçadinhos, estão presentes em diversas áreas das atividades humanas.

Televisão

Caco, o Sapo, é uma das personagens mais conhecidas da TV no mundo inteiro. Compôs o grupo dos Muppets, conhecido programa que, em princípio, se destinava ao público infantil. Mas apenas em princípio. Essa era a intenção de seu criador, Jim Henson, mas o programa foi visto por todas as faixas etárias de públicos dos mais diversos tipos.

O interessante da “coisa toda” é que Caco foi sempre tratado como sendo da família dos sapos. Foi criado como elemento dos sapos, foi visto na TV como componente dos sapos.

Porém, em 2015, foi descoberta uma espécie muito mais pertinente à aparência, às linhas de silhueta e aos trejeitos de Caco. A espécie chama-se Hyalinobatrachium dianae.

Acontece que essa espécie é biologicamente tratada como e não como sapo. Nesse contexto, se Caco fosse um ser racional, com toda certeza entraria em fase de profunda crise existencial.

Literatura

Já na literatura, são incontáveis as histórias em que sapos viram príncipes, como a gente já comentou acima. Até mesmo o grande Manoel Bandeira se dedicou a compor um poema em homenagem a esse anfíbio, chamado justamente Os Sapos.

Culturas diversas

Como consequência disso, os sapos têm grande audiência no mundo corporativo durante palestras motivacionais diversas. Na cultura chinesa, os sapos detém importância simbólica forte. São associados à imortalidade, à cura, a dinheiro e também à frivolidade de determinadas posturas.

Música

Com toda certeza, você já ouviu que “o sapo não lava o pé; não lava porque não quer”. Ela é cantada até mesmo por outros animais de outras espécies. E várias outras pessoas já gravaram outras canções tendo o sapo como protagonista.

A sapo brasileiro, o Cururu, está cantado em verso, prosa e canção.

Filosofia

Muitas culturas mundo afora têm os sapos como representação das transformações pelas quais o ser humano passa na vida.

  • Por nascerem completamente diferentes (girinos) da forma adulta
  • Por sobreviverem facilmente em vários ambientes (água, terra, árvores etc)
  • Por suportarem situações hostis em pântanos e sujeiras
  • Por cantarem nos inícios de primaveras

Por tudo isso e ainda mais, os sapos parecem àquelas culturas como ser determinado, sagaz e extraordinário.

Lendas e crendices

É comum se encontrar registros da época da Inquisição que denunciam uso de sapos por parte de pretensas feiticeiras. Afinal, esses animais sempre foram (e ainda são) vistos com forte ligação com mistérios, magias e beberagens em geral.

Até mesmo no Brasil, quando se quer brincar (ou não) com amigos, diz-se que se vai colocar o nome da pessoa na boca de um sapo e enterrar. Na região Norte, é conhecida a lenda do Muiquiratã, animal nascido das mãos das índias guerreiras (amazonas). Tinha objetivo de oferecer valor, segurança, bravura, sorte e felicidade às guerreiras.

Mas e quanto às diferenças entre sapos, rãs e pererecas?

Os sapos pertencem à diferentes famílias das rãs e pererecas.
Os sapos pertencem à diferentes famílias das rãs e pererecas.

Vamos agora ao tema do título deste artigo: a questão sheakspeareana ser ou não ser sapos, pererecas e rãs. Muita gente se confunde. Entretanto, há muitas diferenças tanto no comportamento, quanto na forma e também na taxonomia (que é a área da Biologia que identifica, ordena e classifica os seres vivos).

Os sapos propriamente ditos preferem solos firmes para passar a vida e eventualmente buscam ambientes aquáticos.

Já as rãs, um dos elementos de confusão, conseguem saltos proporcionalmente mais altos e mais distantes. São, portanto, mais ágeis e habilidosas. Pertencem à família dos Ranídeos, que é muito numerosa (os sapos são bufanídeos, como vimos acima).

Porém, no Brasil, há uma única espécie dessa família: a Rana palmipes. As outras rãs brasileiras são de outra família, a dos Leptodactylídeos.

Quanto às pererecas, têm comportamento semelhante ao do sapo em relação ao ambiente: preferem solo firme, como árvores. Além disso, as pererecas se distribuem por várias famílias. A mais numerosa é a Hylídeos que, inclusive, é a família da conhecida perereca-da-Europa, a Hyla arborea. Trata-se de espécies pequeníssimas, com apenas 1,75cm.

Bem, veja algumas informações que distinguem esses três anuros.

Perereca

  • Gosta mais de viver em galhos de árvores
  • Não passa de 10cm de comprimento
  • Tem mais de 700 espécies
  • Olhos bem mais saltados para fora
  • Salta mais que as outras duas personagens deste artigo
  • Possui ventosas nas pontas dos dedos que auxiliam na escalada de árvores

  • Prefere lagoas à terra firme ou árvores
  • Algumas espécies podem chegar a 30cm de comprimento
  • Tem mais de 4 mil espécies
  • É comestível por humanos<
  • As pernas são bem mais longas (quase a metade do próprio corpo)
  • Possuem membranas nas patas traseiras que auxiliam muito no momento de nadar

Quando aos sapos, você já tem informações suficientes acima. Afinal, eles são estrela neste artigo e as outras personagens são coadjuvantes.

Adendo a este artigo sobre sapos

A gente prometeu acima que comentaria sobre o porquê de contos infantis serem chamados de Histórias da Carochinha. Nada tem a ver com sapos, lógico, mas é que eles estão muito presentes nesse tipo de história.

Claro, está associado à indústria editorial impressa. Os livros começaram a ser produzidos no Brasil somente no início do século XX. Antes, eles eram importados da Europa, em especial de Portugal. Obviamente, apenas a elite tinha acesso a tais produtos.

O fluminense Pedro S. Quaresma, que consta como o primeiro livreiro do país, adquiriu uma livraria por volta dos anos 1950. Fez chegar ao Brasil livros mais populares a fim de aumentar suas vendas.

A iniciativa cultural resultou em muita adesão de muitos escritores brasileiros e portugueses, que a passaram a escrever histórias sob pseudônimos. Para adiantar os procedimentos, muitos autores optaram por escrever histórias antigas de seus povos, incluindo histórias infantis.

Em Portugal, “carochinha” é termo associado à “baratinha”, mas no sentido simpático da palavra. No Brasil, um dos primeiros livros a ser publicado em território nacional foi justamente História da Carochinha, personagem literária que representava uma vovozinha simpática, amável, que gostava de passar o tempo narrando contos para seus netos.

Daí o termo Histórias da Carochinha. Nesse caso, você poderia ler algumas histórias da Carochinha sobre sapos e, se tiver mais dúvidas sobre esse anuro feinho, feinho, mas engraçadinho, pode deixar na área de comentários logo abaixo.

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