Sarna Demodécica e Sarcóptica: Qual a diferença?

Sabia que nem toda a sarna é contagiosa? Essa é a principal diferença entre a sarna demodécica e a sarcóptica. Ambas provocam diversos distúrbios dermatológicos, no entanto, uma é contagiosa e tem cura, enquanto a outra não é contagiosa e tem apenas tratamento paliativo.

No geral, os problemas de pele têm características bem parecidas entre eles. Por isso, para saber se o cachorro tem sarna ou outra dermatite, é imprescindível levá-lo ao médico veterinário.

Além disso, existe uma terceira sarna chamada otodécica. No entanto é um tipo de sarna que fica mais localizada como veremos adiante.

Vamos conhecer melhor as diferenças entre as doenças.

Sarna Demodécica, Sarcóptica e Otodécica

Como mencionamos anteriormente, existem diversos tipos de sarna: a sarcóptica, a demodécica e existe também a orodécica que será brevemente descrita.

Sarna Otodécica

A Sarna Otodécica é um tipo de sarna pode ser passada de cachorros para gatos, e vice-versa, com facilidade. No entanto, só atinge os ouvidos dos animais. O ácaro responsável é o Otodectes cynotis e ele não apresenta perigo aos humanos.

Transmissão

A contaminação é muito rápida e pode se dar por um breve contato físico ou em locais infestados por este ácaro. Atinge mais comumente cães, gatos, coelhos e ferrets.

Sinais Clínicos

A doença causa coceira intensa na orelha/ouvido do animal e, de tanto ele coçar, pode acabar ferindo a região. Além da coceira, outro sinal que é, sem dúvida característico, é o acúmulo anormal de cera no local, que pode gerar uma otite.

Diagnóstico

O diagnóstico é possível através da visualização com o otoscópio. A confirmação do diagnóstico de é feita com a visualização do parasita (otodectes cynotis) dentro do ouvido. Além disso, pode ser feita a retirada de um pouco de exsudato como amostra e posterior visualização do mesmo com auxílio de lupa ou microscopia.

Tratamento

O tratamento deve ser feito em todos os animais da casa e no meio ambiente. Nos animais é necessário fazer uma boa limpeza do conduto auditivo retirando todo o material enegrecido para aplicar o medica

Existem medicamentos para instilar dentro do conduto auditivo, injetáveis ou até spot-on (tópico no pescoço).

Sarna Demodécica VS Sarna Sarcóptica

Ao contrário da sarna otodécica, a sarna demodécica e a sarcóptica atingem todo o corpo do animal, provocando lesões na pele e perda de pelos. No entanto, são transmitidas e provocadas por agentes diferentes.

Vamos conhecer as diferenças.

Sarna Demodécica

A sarna demodécica é conhecida também como demodicose ou sarna negra. Trata-se de uma dermatopatia parasitária inflamatória que pode acometer cães e gatos.

É causada por uma proliferação anormal de um ácaro do gênero Demodex, que, no entanto, é considerado parte da fauna cutânea normal dos animais, desde que achados em número baixo.

Apesar de atingir também gatos, a sarna demodécica é mais comum em cães. É uma doença generalizada, crônica e não possui cura. Esse tipo de sarna deve ser, portanto, controlada durante toda a vida do animal.

Etiologia

Como mencionado anteriormente, a sarna demodécica canina é provocada pelo Demodex canis.

Esse ácaro é um habitante natural da pele do animal, no entanto, por motivos ainda desconhecidos, em alguns casos, estes proliferam de uma forma tão acentuada que acabam causando lesões dermatológicas em seus portadores. Acredita-se que anormalidade genéticas e/ou de imunidade, possam provocar ou acentuar esse tipo de alteração.

A sarna demodécica tem forte ligação com componentes hereditários. Porém, existem outros fatores que influenciam diretamente. Animais com imunidade baixa, que passaram por separações, doenças como câncer, gestações ou mesmo cio, são mais suscetíveis à manifestação da doença.

Além disso, algumas raças também são mais propensas se comparado às outras. São elas:

  • Pastor Alemão;
  • Doberman;
  • Dálmata;
  • Boxer;
  • Pug.

No gato, duas espécies de ácaros podem provocar esse tipo de sarna: D.cati e D.criceti.

O ciclo vital do ácaro ocorre no hospedeiro e passa por quatro estágios principais:

  • ovo,
  • larva,
  • ninfa
  • adulto.

Acredita-se que o ciclo demore de 20 a 35 dias para se completar.

Transmissão da sarna demodécica.

A Sarna Demodécica é uma dermatopatia individual, não sendo considerada contagiosa. No entanto, é transmitida de mãe para filho durante os primeiros dias de vida, por meio do contato direto entre os dois.

O ácaro, portanto, não afeta pessoas ou outros animais adultos saudáveis.

Sinais Clínicos

A sarna demodécica pode ser localizada ou generalizada. Quando localizada, ela aparece tipicamente em cães com menos de um ano de idade, com lesões observadas, normalmente,  na cabeça e extremidades.

As lesões são áreas alopécicas que podem ter sinais variáveis de eritema, descamação, piodermatite e prurido. Apenas 10% dos cães apresentam a sarna demodécica generalizada.

A sarna demodécica generalizada é rara em adultos. É considerada como a forma mais grave da doença e se apresenta como uma dermatite crônica que se desenvolve em áreas como a cabeça, pernas e troncos. Os sinais clínicos comuns são:

  • Alopécia;
  • Descamação;
  • Piodermite severa;
  • Hiperpigmentação;
  • Formação de crostas.

Diagnóstico

Para diagnosticar corretamente a Sarna Demodécica, é necessário passar com consulta com o médico veterinário de confiança, já que tudo começa com uma boa anamnese e exame físico.

Primeiramente, sugere-se o raspado cutâneo ou biópsia.

Para descarte de outras doenças que provocam sintomas similares, sugere-se também a inclusão de exames laboratoriais como perfil bioquímico sérico, hemograma e urinálise. Outros testes relacionados a doenças endócrinas podem ser solicitados conforme a necessidade.

Tratamento

A sarna demodécica, principalmente quando localizada, tem tratamento paliativo. Ou seja, infelizmente não tem cura, mas com os devidos cuidados, o animal pode ficar assintomático pelo resto da vida.

Primeiramente deve-se oferecer alimentos de alta qualidade ao animal. Isso ajuda a promover a imunidade, condição essencial para combater o aparecimento das lesões. Além disso, as vitaminas e proteínas contidas em alimentos de alta qualidade, ajudam a manter a saúde da pele e dos pelos.

Em segundo lugar, e não menos importante, deve ser feito o controle dos ácaros através de medicamentos específicos. Veja mais em ‘Remédios para Sarna de cachorro: Como tratar a doença?‘.

Como ainda não é possível prevenir a doença, o ideal é evitar que ela se espalhe ainda mais. Para isso, é recomendado castrar animais portadores da doença.

Sarna Sarcóptica

A Sarna Sarcóptica, conhecida também como escabiose, é uma zoonose. Ou seja, trata-se de uma doença que pode ser transmitida de animais a humanos.

É uma dermatose parasitária causada por ácaros que vivem sobre ou no interior da pele do hospedeiro. As lesões características são provocadas por danos mecânicos provenientes da escavação dos ácaros na pele, substancias pruriginosas ou até mesmo por uma reação de hipersensibilidade desenvolvida contra um ou mais produtos extracelulares do ácaro.

Etiologia

A sarna sarcóptica é uma dermatose extremamente pruriginosa, papulocrostosa causada pelo ácaro epidérmico Sarcoptes scabiei (daí o nome escabiose).

O ácaro adulto é microscópico, possui uma forma grosseiramente circular e se caracteriza por dois pares de pernas curtas craniais (que portam longas hastes não-articuladas com ventosas) e dois pares de pernas rudimentares caudais, que não se estendem além da borda do corpo.

Embora possua preferência por cães, este ácaro pode facilmente afetar gatos e humanos. Entretanto, gatos com esse tipo de doença podem ter também outra doença subjacente, ou seja, a infecção com vírus da imunodeficiência felina.

O parasita possui um ciclo de vida que se completa de 17 a 21 dias, e se divide em quatro estágios: ovo, larva, ninfa e adulto.

Transmissão da sarna sarcóptica.

O Sarcoptes scabiei é suscetível à temperaturas altas e ressecamento, no entanto, consegue viver no ambiente até 21 dias.

Este tipo de sarna é altamente contagiosa e é transmitida principalmente pelo contato direto. Inclusive instrumentos de limpeza podem ser fontes de infecção.

Os ácaros sarcópticos preferem peles com pouco pelame, portanto são mais numerosos nas orelhas, cotovelos e abdome. Com a evolução da doença, os pelos caem e, eventualmente, os ácaros ocupam grandes áreas de pele.

Sinais Clínicos

Primeiramente, o parasita localiza-se na pele dos animais e gera uma dermatite muito pruriginosa e generalizada. O animal apresenta-se, na maioria dos casos, com pequenas crostas hemorrágicas e perda da pelagem nas regiões ventral, axilar, cotovelos, calcanhares e no focinho. No entanto, o quadro clínico pode ser mais abrangente.

A dermatite é acompanhada invariavelmente por produção exagerada de gordura, dando um aspecto e odor “rançoso” ao animal.

Diagnóstico

O diagnóstico da doença de pele faz-se pelo aspecto clínico do animal junto com a confirmação da
presença do ácaro na pele por um exame (raspagem de pele e observação ao microscópio).

Muitas vezes, e apesar do animal ser portador, o ácaro não é encontrado no exame referido. Este fato não deve ser suficiente para excluir esta doença dos diagnósticos possíveis. A resposta positiva à medicação acaricida (destinada a destruir os ácaros) é também diagnóstica.

O aparecimento simultâneo de vários animais com o mesmo problema ajuda a limitar as possibilidades de diagnóstico. No entanto, outras dermatoses parasitárias ou alérgicas devem ser consideradas no diagnóstico diferencial.

Tratamento

O tratamento consiste na medicação acaricida associada a medicação sintomática conforme necessidade. Podem ser, de fato, associadas antibioterapia, terapia para o prurido, banhos anti-sépticos, suplementos nutricionais específicos e outros.

A medicação acaricida pode ser administrada sob a forma injetável (sempre pelo médico veterinário), por banhos medicamentosos ou por via oral. Entretanto, recomenda-se o acompanhamento e indicação de um médico veterinário. Afinal de contas, algumas raças de cães possuem sensibilidade e/ou intolerância a determinados medicamentos.

As melhorias no aspecto do animal são visíveis poucos dias após o início do tratamento e, em regra, a cura completa pode ser conseguida após duas semanas.

Casos graves ou crônicos podem demorar mais tempo devido a dificuldade em reverter as alterações mais profundas que podem ocorrer na pele do animal, como seborréia oleosa, hiperqueratose, hiperpigmentação, ou seja, pele espessa, escura e gordurosa.

É imprescindível isolar os animais doentes. Além disso, deve-se ter muito cuidado ao manipula-los já que a doença é facilmente transmissível. Recomenda-se, portanto, o uso de materiais de proteção como luvas e protetores de roupa descartáveis ao realizar o tratamento.

Além disso, o ambiente contaminado por ácaros deve ser higienizado e tratado com um produto acaricida. Todos os animais co-habitantes devem ser tratados simultaneamente. Neste caso, pode ser útil verificar com seu médico veterinário de confiança a indicação de acaricidas por via oral como forma preventiva e de tratamento.

É possível prevenir a sarna demodécica, sarcóptica ou otodécica?

Sim, é possível prevenir as manifestações da sarna. Sem dúvida, a prevenção é sempre o melhor caminho para poupar sofrimento desnecessário, preocupações e o bolso. Conheça algumas formas de evitar o aparecimento das sarnas:

Mantenha seu cachorro saudável.

O fortalecimento do sistema imunológico do cachorro ajuda, sem dúvida, a conter a ação dos ácaros, impedindo o agravamento da doença. Isso é especialmente importante em portadores da sarna Demodécica, já que costuma reaparecer justamente quando a imunidade do animal está baixa.

Evite contato com animais infectados.

Essa recomendação vale para animais portadores de sarna sarcóptica e otodécica, ou seja, os casos em que a sarna é contagiosa. É muito importante evitar o contato com animais e pessoas infectadas, e evitar locais e objetos contaminados.

Cuidado com a predisposição à doença

Como a sarna Demodécica é pode ser transmitida de mãe para filhote, observe a genética antes de optar pelo cruzamento de cachorros. Recomenda-se a castração dos portadores.

Isolamento.

Caso suspeite que seu cachorro esteja com sarna, recomenda-se isolá-lo e chamar um médico veterinário para iniciar o tratamento o mais rápido possível.

Higienização

A higienização do local e dos objetos com desinfetante e água quente deve ser realizada corretamente. Além disso, considere descartar alguns materiais como o cobertores, para evitar um novo contágio. Mas, antes disso, lave-os com água fervente.

Lembre-se que, ao ir para o lixo, o material ainda vai entrar em contato com pessoas e animais e pode continuar transmitindo a doença.

Dedetização do ambiente

Essa é uma medida para evitar o contágio dos membros da casa e de outros animais, pois a sarna é facilmente transmitida.

Para isso, trate o ambiente com inseticida e higienize completamente as roupas do cão, caminha e todos os utensílios dele.

Lembre-se que o ácaro é resistente à maioria dos produtos de limpeza. Além disso, devido ao tempo do ciclo de vida e capacidade do ácaro de viver fora do animal, a casa precisa desse tratamento especial por pelo menos quatro semanas.

Referências Bibliográficas:

  • BICHARD,S. J.; SHERDING,R. G. Manual Saunders: Clinica de Pequenos Animais. 2 ed. São Paulo, Roca, 2003.
  • FERRARI, M.L.; PRADO, M.O.;SPIGOLON, Z. SARNA SARCÓPTICA EM CÃES – Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária. Ano VI – Número 10 – Janeiro de 2008
  • SANTOS, L.M; MACHADO, J.A.C.; NEVES, M.F. DEMODICOSE CANINA: REVISÃO DE LITERATURA – Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária, Ano VII – Número 12 – Janeiro de 2009.

 

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